• 16 abr 2024

    Irã reage ao atentado terrorista de Israel contra sua embaixada na Síria

Manifesto do Partido Operário Revolucionário

Irã reage ao atentado terrorista de Israel contra sua embaixada na Síria

Mais um sinal de que a guerra desfechada contra os palestinos da Faixa de Gaza foi calculada para envolver o Oriente Médio

Os Estados Unidos e sua aliança imperialista são os grandes responsáveis pela escalada militar

O Estado sionista e o governo de unidade nacional sob a chefia de Benjamin Netanyahu responderam à operação militar do Hamas de 7 de outubro, não como uma resposta e demonstração de seu poderio militar, e assim vingar a morte de cerca de 1200 judeus, mas com o objetivo de anexar a Faixa de Gaza e fortalecer a colonização da Cisjordânia. Essa não é a primeira tentativa. A resistência palestina impossibilitou que o Estado sionista tomasse conta por completo do território rebelde. Em contrapartida, o governo israelense armou um grande cerco fronteiriço e passou a sufocar economicamente a Faixa de Gaza.

A invasão de Israel pelo Hamas resultou de uma situação sufocante imposta à Faixa de Gaza e de uma investida de implantação do colonato judeu na Cisjordânia sob os olhos da impotente Autoridade Palestina. Desta vez, o governo de Netanyahu planejou a intervenção militar para longa duração, sob a meta de varrer o Hamas a qualquer custo. Apoiado no “direito à defesa”, sob a guarda dos Estados Unidos, o Estado sionista desfechou um processo de genocídio. À medida que avançava a marcha da destruição e aumentava a matança de civis completamente indefesos – maioria de crianças e mulheres –, e a população mundial se assombrava e protestava, o governo Netanyahu não mais conseguia ocultar o genocídio e seu plano expansionista. Os Estados Unidos, por sua vez, já não podiam evocar o “direito à defesa” e ocultar seus interesses hegemônicos no controle do Oriente Médio.

Os porta-aviões norte-americanos enviados ao Mediterrâneo cumpririam desde o início a função de garantir a Israel a demolição da Faixa de Gaza, aterrorizar a população, provocar deslocamentos, matar indistintamente e sufocar pela fome as famílias desabrigadas. O Hamas passou a ser caçado em cada recanto da Faixa de Gaza. Falta demolir Rafah, que ainda não foi intensamente bombardeada, porque a mortandade tem causado clamores, inclusive, entre governos e frações da burguesia mundial. O governo Biden, envolvido na disputa eleitoral com Trump, se viu obrigado a disfarçar e a ocultar sua responsabilidade pela facilidade como o governo israelense tem agido barbaramente.

Completaram-se seis meses de bombardeio cerrado e de ocupação militar da Faixa de Gaza, mais de 33 mil mortos, um número estrondoso de desaparecidos e de mutilados e uma multidão de famílias que corre de um lado a outro para receber uma ração “humanitária”, que mal garante a existência. Os palestinos da Faixa de Gaza foram transformados em animais encurralados, não tendo para onde correr ou se esconder. Uma situação dramática como essa somente pôde e pode ser sustentada por meio de um aparato militar que ultrapassa em muito a capacidade de Israel, de uma enorme divisão dos povos árabes, dos antagonismos entre nações e de um longo processo de desestabilização do Oriente Médio. Sobre essa realidade convulsiva, que explode na forma de guerras, pesa a dominação dos Estados Unidos, conformada na Segunda Guerra Mundial e ampliada no período da “Guerra Fria”.

As guerras que se armaram entre Iraque e Irã; a guerra civil na Síria impulsionada pela internacionalização, as duas guerras de intervenção dos Estados Unidos no Iraque e a guerra da Arábia Saudita contra o Iêmen tiveram por antecedentes as guerras de 1948/1949, 1967 e 1973 do Estado sionista com países árabes.

Desde a Primeira Guerra que, suprimiu o Império Otomano, os povos do Oriente Médio vivem em intensos conflitos. Todas as situações de polarização que levaram às guerras estão condicionadas pelo imperialismo, chefiado pelos Estados Unidos. Os alinhamentos em torno a Israel se foram arranjando por meio do poderio norte-americano. O esgotamento do nacionalismo pan-arábico dos anos de 1950 deu lugar a um maior estilhaçamento de interesses entre os próprios Estados árabes e entre esses e o Estado iraniano, que se tornou adversário de Israel e dos Estados Unidos a partir da Revolução nacionalista de janeiro de 1979.

A afirmação do regime nacionalista islâmico uniu parte significativa dos países árabes, que se submeteram à hegemonia dos Estados Unidos e à potenciação militar do Estado sionista. A utilização da desavença entre sunitas e xiitas pelo imperialismo se baseou nos poderes oligárquicos das frações da feudal-burguesia envolvidas nas riquezas petrolíferas e comerciais. O Irã xiita não teve outra via de defesa a não ser se aproximar e apoiar os movimentos islâmicos de fundo nacionalista e de caráter anti-imperialista defensivo. A intervenção militar dos Estados Unidos no Oriente Médio com a Guerra no Golfo e, em seguida, com a invasão do Iraque desequilibrou ainda mais as relações entre as oligarquias burguesas que se assentam nas velhas disputas entre xiitas e sunitas. É nesse marco que emergem os alinhamentos que servem ao imperialismo, de um lado, e ao nacionalismo de caráter anti-imperialista, de outro. A constituição do Estado sionista se viabilizou com as partilhas do Oriente Médio resultantes das duas guerras mundiais. E sua implantação se realizou por meio da violência e guerras colonialistas, impulsionadas e amparadas pelos Estados Unidos e por sua aliança imperialista com as potências europeias.

O episódio isolado da operação militar do Hamas e da poderosa resposta do Estado de Israel não explicita o processo de décadas de embates entre as forças sionistas e palestinas-árabes. A irradiação do massacre na Faixa de Gaza e o objetivo do Estado sionista de avançar em sua marcha anexionista no território palestino, no entanto, põe à luz do dia a potenciação da crise no Oriente Médio, que há décadas vem acumulando contradições típicas do capitalismo esgotado e em decomposição. As próprias forças sociais e políticas internas em Israel, sob o manto do Estado sionista, caminharam no sentido de acabar de vez com a sombra da esperança de coexistência pacífica entre judeus e palestinos por meio da constituição de dois Estados, como formalmente a ONU concebeu a entrega da Palestina à burguesia e pequena-burguesia sionistas. A ultradireita triunfou marginalizando as forças de centro-direita que pretendiam uma anexação progressiva, mas negociada nos moldes dos Acordos de Oslo, de 1993. Um Estado palestino desarmado e subordinado aos ditames de Israel e do imperialismo significaria admitir a anexação pela via pacífica. Fracassou não apenas porque a oligarquia burguesa sionista viu riscos maiores do que vantagens, mas também porque a Palestina conflagrada fazia parte de um Oriente Médio convulsionado, sobretudo pela opressão nacional exercida pelo imperialismo norte-americano e aliados e pela resistência do nacionalismo árabe e iraniano. Não havia como cessar os choques do Irã, da Síria, do Líbano, do Iraque e do Iêmen com os Estados Unidos e com Israel. A guerra civil internacionalizada na Síria, que teve de ser constantemente negociada quanto aos seus limites, entre os Estados Unidos e Rússia, serviu de exemplo do que poderia vir a ocorrer em escala mais elevada no Oriente Médio.

Muito se discutiu sobre os riscos de se generalizar colocando frente a frente os Estados Unidos e a Rússia. A acomodação das forças mais poderosas que se sobrepuseram ao movimento islâmico nacionalista era visivelmente provisória. A reorganização do Iraque desmoronado pela intervenção norte-americana se deu no sentido de reduzir as tendências de generalização dos embates e fortalecer o alinhamento montado pelos Estados Unidos, tendo a Arábia Saudita e o Egito como seus principais pilares. Alinhamento que deveria e deve estar soldado à política do Estado sionista de ampliar seu domínio na Palestina e o cerco ao Líbano e à Síria.

O centro da aliança convergiu e converge para derrubar o regime nacionalista do Irã. O governo Obama procurou inviabilizar o programa nuclear iraniano por meio de um acordo que suspendia as sanções econômicas. Em seguida, Trump rompeu o acordo e recorreu ao cerco das sanções. Israel é o único Estado que detém armas nucleares, viabilizadas pelos Estados Unidos. Não poucas vezes, se discutiu publicamente a possibilidade de um ataque israelense ao programa nuclear do Irã. Chegou-se a assassinar com atos terroristas cientistas envolvidos no desenvolvimento da energia nuclear e a sabotar militarmente a infraestrutura das usinas.

Israel se prepara, desde o fim da ditadura pró-imperialista do xá Mohamed Reza Pahlevi, para derrubar o regime nacionalista do Irã. O que implica a possibilidade de uma guerra. Desde o início da intervenção das Forças de Segurança de Israel na Faixa de Gaza e o apoio dos Estados Unidos, esteve posta a possibilidade de ampliar a conflagração para o Oriente Médio. Esse foi o motivo principal de Biden enviar seus navios de guerra para a região. As respostas norte-americanas contra o apoio dos Houthis aos palestinos, atacando alvos selecionados no Iêmen e no Iraque, foram sinais de que não havia como isolar o genocídio na Faixa de Gaza dos choques que já vinham estremecendo a região como um todo. As armas dos Estados Unidos apontadas para os adversários do Estado sionista contiveram a expansão da escalada militar. Mas, nem por isso evitaram a sua potenciação.

O Irã emergiu como alvo principal pelo lugar de destaque na crise do Oriente Médio. O seu protagonismo na guerra civil do Iêmen e a retomada de sua influência sobre o Iraque permitiram sustentar o apoio aos movimentos islâmicos que se contrapõem ao domínio de Israel sobre a Palestina e ao seu expansionismo. O atentado terrorista no Irã, reivindicado pelo Estado Islâmico, que causou a morte de mais de oitenta manifestantes, que celebravam a memória do general Qassin Soleimani, assassinado pelos Estados Unidos, é parte da confrontação de forças emanadas da guerra de Israel na Faixa de Gaza. Israel bombardeou locais no Líbano para assassinar líderes do Hamas. Em si, tal ação é uma declaração de guerra. O Hezbollah, assim que iniciou a intervenção de Israel contra os palestinos, se colocou em posição de combate. De forma que o Líbano esteve e está envolvido, ainda que limitadamente, na confrontação. Israel realizou o mesmo tipo de operação na Síria. A última e mais grave do ponto de vista do rompimento dos limites da guerra na Faixa de Gaza ocorreu em 1º de abril, com o bombardeio pelas forças israelenses à embaixada do Irã na Síria, assassinando importantes comandantes militares. Mais uma vez, o governo Netanyahu declarou guerra à Síria e ao Irã.

O governo iraniano se viu empurrado a dar uma resposta. A nuvem de drones e alguns misseis disparados em direção a Israel não tiveram por objetivo atingir militarmente o inimigo. O Irã avisou que faria a demonstração de forma que Israel e a aliança imperialista dos Estados Unidos poderiam dissipar o ataque iraniano. A teatralização maravilhou o firmamento com uma chuva de drones se desintegrando como se fosse uma coreografia. No entanto, refletiu os riscos de a guerra na Faixa de Gaza se transformar em uma guerra com o Irã. Esse é o grande objetivo do Estado sionista.

O atentado em Damasco, Síria, à embaixada do Irã se deu em um momento de isolamento mundial de Israel e de grande polarização nas eleições norte-americanas. Foi claramente planejado para colocar Israel como vítima que tem o “direito à defesa”. E ajudar Biden a manter a justificativa de apoio a Israel, que desconheceu a decisão do Conselho de Segurança da ONU de cessar-fogo. O próximo passo depende do governo de Netanyahu. O Irã demonstrou que não quer a guerra. A aliança imperialista promoveu a condenação do Irã, como se não estivesse respondendo ao atentado terrorista de Israel em Damasco. Mas, cinicamente pediu moderação a Israel para que não escale a guerra, já potencialmente pronta para estourar no Oriente Médio. De fato, os Estados Unidos precisam acalmar a região, para se dedicar mais à guerra na Ucrânia e à guerra comercial com a China na Ásia. Há que assinalar que os Estados Unidos trabalham para fechar caminho à projeção da China no Oriente Médio.

Não há interesse do Irã ir à guerra com Israel e com a frente imperialista que o protege. O interesse se concentra em Israel, comandado por um governo voltado ao expansionismo. O problema está em que a explosividade no Oriente Médio, potenciada pelo genocídio na Faixa de Gaza, compõe o quadro geral da crise mundial, que se ampliou com a guerra na Ucrânia e a estratégia norte-americana de conter os avanços econômicos da China e, em particular, no Oriente Médio, e com eles a crescente influência da política chinesa em todo o mundo.

Não pode haver dúvida de que o Irã, Síria, Iraque e Líbano estão nos marcos dessa correlação de forças na condição de nações oprimidas que se veem mais e mais envolvidas na guerra expansionista de Israel contra o povo palestino. Arábia Saudita, Egito, Jordânia, Emirados Árabes são também semicolônias oprimidas, mas servindo de vassalas dos Estados Unidos e instrumentos de Israel. Os explorados sob a direção da política do proletariado estão diante da necessidade de levantar as trincheiras da frente única anti-imperialista que tomou suas primeiras formas com o movimento mundial das massas contra o Estado sionista de Israel e em defesa do povo palestino.

A possibilidade de um ataque israelense ao Irã está dada. E não será com a política burguesa e os métodos da guerra de Estado contra Estado que se derrotará o imperialismo e o sionismo colonialista. É com a política do proletariado e com os métodos da luta de classes que os explorados e os povos que sofrem a opressão nacional vão combater as forças do capitalismo imperialista e das oligarquias burguesas das semicolônias que servem ao grande capital internacional e comprometem a independência nacional.

Desde os sindicatos e movimentos, está colocada a tarefa de edificar a frente única anti-imperialista que levante e dirija as massas contra os novos passos militares que podem incendiar o Oriente Médio e impulsionar as tendências à guerra mundial que se manifestam na Ucrânia conflagrada e na Ásia Oriental marcada pela escada militar. A estratégia programática diante da guerra na Faixa de Gaza e das forças que gestam confrontações em toda a região é a da autodeterminação das nações oprimidas, fim de toda opressão nacional, por uma Palestina unida sob uma República Socialista, pela expulsão dos Estados Unidos e de sua aliança imperialista e pelos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio.

É por esse caminho que o proletariado superará sua crise de direção, construindo os partidos marxista-leninista-trotskistas e reconstruindo o Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional.

Pelo fim imediato da guerra do Estado sionista contra os palestinos!

Pela autodeterminação do povo palestino!

Apoio às nações oprimidas que reagem à opressão imperialista e ao expansionismo sionista!

Organizar frente única anti-imperialista, sob o programa e a direção da classe operária.

Viva o internacionalismo proletário! Toda força à luta para derrotar o imperialismo!