• 05 maio 2024

    Editorial: 1º de Maio – Um momento que expõe o avanço da crise mundial

Editorial do Jornal Massas nº 714

1º de Maio

Um momento que expõe o avanço da crise mundial

As condições são favoráveis à luta pela superação da crise de direção

O 1º de Maio retratou a falência mundial da burguesia em conter o processo de decomposição do capitalismo. Suas instituições criadas nos marcos do período pós 1ª e 2ª guerras se mostram ineptas para acomodar os interesses das potências imperialistas e promover uma certa estabilidade das relações políticas e militares. A ONU não foi capaz de conter o ímpeto genocida do Estado sionista de Israel. Falhou completamente em evitar o cerco da OTAN à Rússia e a consequente guerra na Ucrânia.

A máscara do pacifismo, do democratismo e dos direitos humanos já não pode ser ostentada pelas forças do imperialismo. Os Estados Unidos já a tinham rasgado com as guerras no Vietnã, Golfo Pérsico, Iraque e Afeganistão, bem como com o intervencionismo militar em todas as latitudes do mapa mundi, em especial nas crises do Oriente Médio, da África e da América Latina. O que distingue o presente do passado recente é a amplitude e o ritmo dos conflitos mundiais.

A guerra na Ucrânia, iniciada há mais de dois anos com a invasão das tropas russas, indicou o acúmulo de contradições do pós Segunda Guerra e o seu caráter internacional. Ocorreu depois de trinta e um anos da derrubada da URSS pela contrarrevolução anti-comunista. Dos anos de 1990 em diante, o capitalismo se moveu em meio a grandes crises econômicas. E, como parte delas, se impulsionou o processo de restauração capitalista que vinha ganhando terreno no Leste Europeu, na China e no Vietnã e, mais recentemente, em Cuba.

Os Estados Unidos se valeram da emersão geral da restauração capitalista e da liquidação de grandes conquistas do proletariado para não apenas garantir a hegemonia alcançada na condição de grande vencedor da Segunda Guerra como também capacitado a agir no sentido de ampliá-la. Esses dois objetivos dependiam de subordinar o território controlado pela ex-URSS, submeter a Rússia e incorporar a China na condição de súdito do mercado mundial.

A União Europeia foi arrastada por essa diretriz, uma vez que sua unificação não resultou em uma ruptura com a estagnação. A OTAN se reergueu em sua função histórica, já não mais como instrumento de guerra do imperialismo contra a URSS, que expressava, ainda que burocratizada e apodrecida, as conquistas revolucionárias do proletariado mundial, mas contra a preservação de independência da Rússia e sua capacidade de manter o controle de parte das ex-repúblicas soviéticas. De instrumento criado nos marcos da guerra europeia, a OTAN se estendeu como braço armado de intervenção em todos os quadrantes do mundo, em particular em razão da guerra comercial dos Estados Unidos contra a China.

A guerra na Faixa de Gaza entra em seu sétimo mês poucos dias depois do 1º de Maio. O conflito direto do Estado sionista com o Irã causou a apreensão de que poderia desestabilizar o Oriente Médio, já abalado por suas antigas contradições internas, pelas brasas ainda acesas das guerras civis, pela presença mais ostensiva da China e pela inflexibilidade na posição do governo israelense em ir adiante com o genocídio. A possibilidade de uma guerra entre Israel e Irã foi contornada, mas permanecem vigentes os motivos da confrontação bélica.

A ocupação da Faixa de Gaza pelas Forças de Defesa de Israel se tornou um acontecimento capaz de alimentar os fatores de guerras que ultrapassam a Palestina à medida que o genocídio é a condição para a burguesia sionista anexar parte do território que restou ao povo palestino. Os Estados Unidos requentaram a bandeira de dois Estados para convencer os árabes que não estão pela tomada total da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Trata-se de uma manobra para rebater a denúncia de que o mundo assiste a um genocídio e não a uma guerra. Não seria possível a Israel chegar a esse ponto, se não fosse o amparo dos Estados Unidos com armas, dinheiro, diplomacia imperial e intervenção direta contra as forças que apoiam ou se colocam pelo fim da guerra. É sintomático que a Turquia e a Colômbia, ainda que tardiamente, tenham declarado o rompimento com o Estado de Israel.

O momento da crise mundial mostra que pesam mais no prato da balança os elementos da desestabilização. Os indicadores não se limitam ao estágio das guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia, cuja durabilidade e ameaça de proliferação recaem pesadamente sobre as relações econômicas que entrelaçam os continentes e os mais longínquos países. Causam temores a escalada bélica que traz a sombra das duas guerras mundiais. Em particular, a insistência dos Estados Unidos, da União Europeia e da OTAN em fornecer mais armas e recursos financeiros para que Zelensky reanime suas forças extenuadas e procure organizar uma nova contraofensiva correspondente ao objetivo de envolver a Rússia em uma guerra europeia.

Um acordo ou uma paz ditada pela Rússia é inconcebível. Os Estados Unidos já aprovaram mais armas e mais financiamento, abarcando a Ucrânia, Israel e Taiwan. Essa ofensiva que abrange o Oriente Médio, a Europa e a Ásia Oriental funciona como uma bússola para os objetivos gerais do imperialismo norte-americano de como enfrentar a crise que tende a se agravar.

Em vários países, o 1º de Maio expressou a luta de classes, o combate à opressão nacional e o desejo de fim das guerras. A repressão foi dura, como na Turquia, França e Argentina. Mas, os explorados conseguiram levantar suas reivindicações e se colocarem no campo da independência política diante dos governos. Destaca-se nesse terreno a intervenção policial nas universidades dos Estados Unidos, onde se instalou um movimento de defesa do povo palestino e contra o genocídio.

O governo democrata e a oposição republicana se uniram para dissolver pela força os acampamentos e as manifestações diárias dentro e fora dos campi. Os protestos estudantis têm sido difamados pelos sionistas como sendo antissemitas. Os direitos mais elementares de expressão, organização e manifestação foram pisoteados pelo governo Biden. Não poderia ser de outra maneira. Os democratas e republicanos estão envolvidos até as entranhas com o genocídio.

O problema está em que a classe operária não se despertou para o perigo que a humanidade corre com o desenfreado militarismo dos Estados Unidos e de seus aliados imperialistas. As manifestações em outras latitudes, principalmente na Europa, respiram o ar puro da luta contra o recrudescimento da opressão de classe e nacional. Está se configurando uma resistência anti-imperialista, embora sem uma definição estratégica devido ao atraso do proletariado e à crise de direção revolucionária. O importante está em que as massas exploradas estão reagindo ao avanço da barbárie capitalista.