• 08 jan 2020

    Manifesto POR – Fora os Estados Unidos do Iraque e do Oriente Médio

Derrotar o imperialismo
Fora os Estados Unidos do Iraque e do Oriente Médio

8 de janeiro de 2020   

Não se sabe ainda a extensão do contra-ataque do Irã às bases militares dos Estados Unidos no Iraque. Tudo indica, pelo tom displicente de Trump, que não provocou estragos ao ponto de os Estados Unidos reagirem prontamente. Logo mais, saberemos se os lançamentos de mísseis pelo governo iraniano são apenas uma resposta limitada para dar alguma satisfação à revolta popular, que tomou conta, não só do Irã, como também do Iraque. A melhor resposta e mais efetiva é a de organizar o movimento das massas que expresse a defesa da nação oprimida contra a agressão do domínio imperialista. Trump não se preocupa tanto com a capacidade militar do Irã, que é diminuta, diante do poderio norte-americano. Teme, principalmente, o levante das massas, que poderá não só unir iranianos e iraquianos, como também outros povos do Oriente Médio.

O imperialismo necessita das divisões entre as nacionalidades e povos para exercer a opressão. As rivalidades étnico-religiosas se assentam nos interesses econômicos, amplamente utilizadas e exploradas pelas potências. Conservam-se regimes semifeudais e autocráticos. Os choques constantes e guerras civis se originam nas disputas territoriais, incentivados pelo intervencionismo externo.

Desde a desintegração do Império Otomano – dominação turca sobre a região –, ocorrida na Primeira Guerra Mundial, a região se tornou um campo de constantes conflitos bélicos, marcados pelos interesses imperialistas. A criação artificial do Estado de Israel se deu nos marcos de uma nova redivisão das fronteiras nacionais, sob o fogo da Segunda Guerra Mundial. Momento em que os Estados Unidos sobrepõem sua hegemonia à da Inglaterra e França. O expansionista sionista se faz por meio da guerra e da frequente violência sobre as massas palestinas. A submissão da Arábia Saudita e Egito às determinações norte-americanas, tendo por fundamento a economia petrolífera, favoreceu o divisionismo étnico-religioso. No momento, a Arábia Saudita procura liquidar a influência do Irã no Iêmen, escorada pelos Estados Unidos e Israel.

Encerrada a guerra entre Irã e Iraque (1980-1988), sobreveio a guerra do Golfo Pérsico, em 1990, liderada pelos Estados Unidos, contra o Iraque. Em 2001, em nome do combate ao terrorismo da Al-Qaeda, os Estados Unidos ocuparam o Afeganistão, derrubaram o governo do Talibã, e instituíram um títere. Em 2003, os Estados Unidos invadiram e ocuparam o Iraque, derrubaram o governo de Saddam Hussein, e promoveram a sua execução. Em 2011, a partir de manifestações contra o governo Bashar al-Assad, teve início a guerra civil, que foi internacionalizada pela intervenção dos Estados Unidos, aliados europeus e Rússia. É nesse quadro de choques permanentes, de intervenção imperialista e de submissão de governos, como os da Arábia Saudita e Egito, que se desenvolveu o movimento nacionalista da Jihad, com suas bifurcações mais significativas, Al-Qaeda, em 1988, e Estado Islâmico, 2014. O nacionalismo se mostra impotente. E os seus métodos terroristas não têm como combater o poderio militar do imperialismo. A derrota do Estado Islâmico, no entanto, se deu por meio de uma poderosa coalizão, liderada pelos Estados Unidos, com a participação do Irã e Iraque.

Derrotado o Estado Islâmico, voltou a imperar a necessidade de os Estados Unidos quebrarem a crescente influência do Irã em várias partes do Oriente Médio. A decisão de Trump, de assassinar um homem de Estado, da importância do general Qassim Suleimani, comandante da Guarda Revolucionária do Irã, bem como Abu Mahdi al-Muhandis, das Brigadas Hezbollah, seguiu ao objetivo de criar as condições para a guerra contra o Irã, tão almejada pelo governo sionista de Israel. O primeiro passo foi o de romper o acordo nuclear estabelecido pelo governo de Barack Obama. O motivo alegado foi o de que o governo iraniano não se curvou completamente às exigências do imperialismo. A ruptura do acordo veio seguida do cerco econômico e isolamento comercial do Irã. É típico da potência hegemônica sufocar economicamente o país, para quebrar o seu governo e impor, em seu lugar, um serviçal.

Nota-se que o ataque terrorista de Trump no aeroporto de Bagdá não teve ressonância positiva entre as potências europeias, que receiam um levante de massa anti-imperialista. É visível que a escalada militar no Oriente Médio é parte da guerra comercial, embora não transpareçam imediatamente os seus laços. As tendências bélicas estão inseridas nas tendências desintegradoras da economia mundial. Uma guerra contra o Irã, sem dúvida, teria consequências muito maiores que a intervenção no Afeganistão e no Iraque, e que a guerra na Síria.

Os Estados Unidos não têm como impor isoladamente uma nova partilha no Oriente Médio. Haja vista o resultado desastroso da ocupação do Iraque, e a tentativa de incorporar o Curdistão petrolífero ao seu domínio. A decisão do parlamento iraquiano, de que os norte-americanos retirem suas bases militares do país, reitera a exigência anterior. Esse ato de soberania nacional contraria a estratégia geopolítica dos Estados Unidos, que sustenta na região quase três dezenas de bases militares, e cerca de oitenta mil soldados. O aparato militar norte-americano, que cobre sete países, evidencia que o imperialismo ianque praticamente ocupa a região.

A anuência dos governos pró-imperialistas está em choque com a tendência das massas, de rechaçarem a dominação norte-americana. A reação popular, desencadeada pelo atentado, ordenado pelo Pentágono, evidenciou o ódio generalizado aos saqueadores do Oriente Médio. A luta anti-imperialista das massas e dos povos oprimidos deve ser apoiada incondicionalmente. É um bom momento para lhes mostrar os limites dos governos burgueses nacionalistas – como o do Irã – e dos movimentos jihadistas. A maioria explorada continua a seguir o nacionalismo, incapaz de impor a independência nacional como parte da luta pela expropriação e expulsão das potências do Oriente Médio; e como via para acabar com os choques étnicos-sectários.

O programa histórico da classe operária é o dos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio. Os explorados, organizados em uma frente única anti-imperialista, podem se erguer como uma força revolucionária, capaz de derrotar os Estados Unidos e as demais potências.

Fora os Estados Unidos do Iraque e de todo Oriente Médio! Pelo direito à autodeterminação das nações oprimidas! Que os povos e etnias do Oriente Médio decidam sobre seus próprios problemas. Lutemos pela derrota de Trump e de todos aqueles que se curvam diante da prepotência norte-americana!