• 07 jun 2025

    Editorial: Somente a classe operária pode enfrentar as tendências bélicas e as guerras em curso

Editorial do jornal Massas nº 741

Somente a classe operária pode enfrentar as tendências bélicas e as guerras em curso

Israel intensifica sua guerra de dominação sobre a Faixa de Gaza. O Líbano continua a ser bombardeado pelas forças israelitas. Os Estados Unidos ameaçam o Irã com uma ofensiva militar. Fracassaram as tentativas de acordo para pôr fim à guerra na Ucrânia. A Alemanha se coloca na dianteira de armamento contra a Rússia.

A Índia e o Paquistão arrefeceram os ataques, sem, contudo, pacificarem seus velhos conflitos em torno da Caxemira. No Sudão e na República do Congo, as forças em choque se mantêm em pé de guerra. Nos Estados Unidos, as Forças Armadas se encontram reforçadas e mobilizadas na fronteira com o México, para imporem as medidas do governo Trump contrárias aos imigrantes. Não é desprezível a ameaça de intervenção no Canal do Panamá.

A notícia de que o Pentágono tem um projeto de construção de um “sistema intercontinental de defesa”, denominado Domo Dourado, capaz de interceptar mísseis em terra, mar e espaço alarmou a Rússia e a China. Ambos consideraram o projeto um sinal de desenfreada corrida armamentista. Chamou atenção a prepotência de Trump em oferecer tamanha proteção ao Canadá, caso passasse a fazer parte dos Estados Unidos. As anexações do Canadá e da Groenlândia são uma questão em aberto. O imperialismo norte-americano retoma assim o antigo objetivo de militarizar o espaço idealizado pelo governo Reagan nos idos dos anos 1980.

A OTAN decidiu reforçar as “metas de capacidade” de defesa aérea e forças terrestres. As potências em geral passaram a aumentar os seus orçamentos militares. Em especial, a União Europeia decidiu pelo rearmamento. O Banco Europeu está ávido em financiar o armamentismo. O investimento no complexo militar-industrial caminha em passos largos. Deu um salto entre 2023 e 2024, passando de 77 bilhões de euros para 102 bilhões. Elevou-se a sua lucratividade. A Polônia tem sido apresentada como modelo de segurança. Atingiu o mais alto ponto do orçamento militar, acima de 4%, quando Trump exige 5%. Aspira que a União Europeia tenha uma cobertura nuclear própria. O seu território é livre para os Estados Unidos instalarem suas tropas e aparatos bélicos. O objetivo mais claro, ou seja, declarado, é o de se preparar para uma guerra com a Rússia, acusada de expansionista. Mas, nesse marco, os Estados Unidos e Europa têm em mira a China.

A Rússia, em guerra na Ucrânia e afrontada pela aliança imperialista europeia, está voltada, em grande medida, a movimentar sua indústria bélica. A China vem potenciando seu arsenal, acossada pela guerra comercial dirigida pelos Estados Unidos e pelo conflito em torno a Taiwan.

O recente acordo comercial de Trump com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes inclui a denominada segurança. A Arábia Saudita é o quinto país na escala de gastos militares, estando abaixo dos Estados Unidos, da China e da Índia e acima do Reino Unido. A reaproximação do Reino Unido com a União Europeia foi justificada pela necessidade de segurança do velho continente. O Japão e a Coreia do Sul seguem a mesma linha. Destaca-se na Ásia, o crescente armamento da Índia, o terceiro país em dispêndio com a maquinaria bélica. Voltou-se, no âmbito da escalada militar, ao espectro das armas nucleares.

Todos os governos afirmam que estão à procura da segurança nacional. A Europa se diz ameaçada pela Rússia. A Rússia se diz ameaçada pelo cerco da OTAN. Israel se diz ameaçado existencialmente pelo Irã e pelos Estados Árabes. Taiwan entrou na corrida armamentista para se defender de uma possível invasão da China. Na América Latina, os militares brasileiros querem ampliar seu orçamento em nome de que todos estão se rearmando, já que não se tem em vista uma pugna fronteiriça.

Em 2023, os gastos militares em nível mundial foram de 2,443 trilhões de dólares, um aumento de 6,8% em relação a 2022. Estados Unidos, China e Rússia lideraram o impulso. Com a decisão da União Europeia de ampliar seus recursos militares, com um plano de gasto da ordem de 800 bilhões de euros, o reforço à indústria militar será significativo.

É necessário assinalar que as condições financeiras dos países que mais aplicam no complexo militar não são saudáveis. Na Europa, vários países importantes como a França, Itália, Espanha e Reino Unido ultrapassaram os 100% do PIB. Os Estados Unidos arcavam com uma dívida de 122,30% do PIB em 2023. A China aumenta o seu endividamento. Em 2024, elevou-se para 88% do PIB. O impulso ao armamentismo expressa o agigantamento do parasitismo econômico e financeiro. É um indicador das contradições mais profundas do capitalismo da época imperialista, de sua decomposição e de potenciação da barbárie.

As crescentes atividades bélicas e as guerras na Europa (Ucrânia) e no Oriente Médio (Faixa de Gaza) se combinam com a guerra comercial. As guerras de dominação implicam partilha e anexação. De conjunto, refletem o desmoronamento da ordem internacional estabelecida após a Segunda Guerra.

Os Estados Unidos estão no centro da crise mundial. Materializam a magnitude das disputas econômico-comerciais e da corrida militar. Necessitam do esmagamento do povo palestino e da posse do que resta de seu território pelo Estado sionista de Israel. Essa imposição poderá fortalecer sua posição de domínio no Oriente Médio. Necessitam de um acordo na Ucrânia que lhes garanta uma posição de força na Europa e perante a Rússia. Necessitam fortalecer sua máquina militar para se impor à China. Necessitam se defender da decomposição do capitalismo e de seu declínio como potência hegemônica descarregando a crise sobre as massas e as nações oprimidas.

A poderosa potência vem se valendo de medidas de força econômica e dos métodos militares. As demais potências imperialistas, principalmente, as europeias, seguem o curso traçado pelos Estados Unidos. A China e a Rússia estão sendo forçadas a se chocar com essas forças dominantes. Mas, como Estados imersos nas relações capitalistas de produção e de comércio, não poderão impedir o avanço das tendências bélicas. Acabam por fazer parte do processo desintegrador do capitalismo.

O combate à burguesia imperialista se dá no terreno da luta de classes. O que se dá contra qualquer fração da burguesia. Somente a classe operária, pelo lugar que ocupa nas relações de produção, pode combater as tendências bélicas em curso.

Não tem ainda se levantado devido à ausência das direções revolucionárias. Forçosamente, reagirá assim que o horizonte das guerras se ampliarem. A tarefa nesse momento é a de levantar as bandeiras que levam as massas a se confrontarem com a dominação imperialista, a responderem aos ataques às suas condições de existência e desenvolverem uma linha programática própria diante das guerras. A vanguarda consciente tem o dever de dedicar todas suas forças para reconstruir o Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional.