• 07 abr 2017

    A que se deve a barbárie na Síria?

7 de abril de 2017

A situação de barbárie na Síria se agrava com a mortandade provocada por arma química. As cenas de crianças e famílias inteiras dizimadas mais uma vez estremeceu o pouco do sentido de humanidade que ainda resta no capitalismo putrefato. Não se trata, porém, de uma novidade. As tragédias resultantes de bombardeios de escolas, hospitais, acampamentos e zonas residenciais se tornaram comuns. Os massacres pelas chamadas armas “limpas”, as que são lançadas das alturas, causam comoção, mas são consideradas legais. E podem ser explicados como erro de cálculo, um infortúnio da guerra. Os Estados Unidos são campeões nessa modalidade de “erro”. A imprensa mundial não divulga os detalhes dos dramáticos acontecimentos nos quais a maior potência está envolvida no Oriente Médio. As tragédias com armas químicas são apresentadas como diferentes porque são causadas por armas “sujas”, ilegais. Estão proibidas as armas químicas, fabricadas pelos mesmos países que as proíbem, que qualquer outro país pode obter, mas não estão as armas sofisticadas, carregadas por bombardeiros e navios, que somente um punhado de países detém. Uma das primeiras medidas de Trump foi de aumentar o orçamento militar dos Estados Unidos, já suficientemente grande para garantir a sua hegemonia mundial.

Na reunião do Conselho de Segurança da ONU, a representante norte-americana ameaçou, afirmando que seu país poderá tomar medidas unilaterais. O que não é difícil. Georg W. Bush assim o fez para ocupar o Iraque, derrubar seu governo e devastar o país. Depois da mortandade, da devastação e de colocar em guerra xiitas e sunitas, comprovou-se que o motivo alegado para a intervenção era falso. O Iraque já não possuía armas químicas e nucleares. Os Estados Unidos passaram por cima da ONU e mentiram descaradamente, sem que ninguém pudesse condená-los por crime de guerra e humanidade.

As guerras na Síria e no Iêmen são parte da guerra montada pelo imperialismo norte-americano no Iraque. Faltou pouco para que se tornasse um brutal desastre com o confronto entre Israel e Irã. Não se pode desconhecer que a jihad sunita, que passou a ter maior influência com a constituição do Estado Islâmico, ganhou projeção, alcançando a Síria depois da desintegração do Iraque e da mudança das forças sociais no poder do Estado. Há que recordar também o que se passou com a Líbia. A ingerência das potências levou à retomada das profundas divisões nacionais e à fragmentação. Os bombardeios foram responsáveis pelas matanças. Isso em um país desguarnecido militarmente a tal ponto que não teve como esboçar qualquer reação à invasão aérea de seu território. Neste caso, a ofensiva imperialista se deu por unanimidade, com apoio da ONU.

No recente acontecimento da mortandade pelo gás venenoso, a imprensa monopolista saiu a propagandear que o governo sírio “teria até 100 ogivas com gases prontas para uso”. Não importa, por outro lado, o vasto armamento implantando pelas potências e sua indústria de guerra em todo Oriente Médio. É bem provável que os Estados Unidos se utilizem da tragédia de Khan Shikhoun, na Província de Idlib, para recrudescer sua presença militar na guerra da Síria. Esse foi o aviso dado por Donald Trump e sua embaixadora na ONU, Nikki Haley.

O governo sírio rechaçou a acusação. A Rússia levantou a hipótese de um bombardeio aéreo a posições dos adversários ter atingido um depósito de armas químicas. No entanto, França, Inglaterra e Estados Unidos foram enfáticos na denúncia de que houve um ataque químico planejado pelas Forças Armadas da Síria. O representante russo no Conselho de Segurança acusou as potências de formular uma acusação sem nenhuma comprovação digna de credibilidade. Ocorre que não há nenhum organismo internacional verdadeiramente independente capaz de investigar não apenas as mortes por armas químicas, mas também pelos bombardeios a coletividades de civis. É sabido que a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) é uma agência controlada pelos Estados Unidos.

Os interesses na guerra da Síria são múltiplos. Como vimos, têm a ver com a situação geral do Oriente Médio conflagrado em crises permanentes. Região petrolífera e de importância geopolítica para as potências desde a 1ª Guerra Mundial, passou a ser palco de importantes confrontos de nacionalidades e de guerras promovidas pelo imperialismo. Estão aí as raízes e as explicações da barbárie que caracteriza a guerra internacionalizada na Síria. A maior parte da matança em massa, como se constata, não tem sido pelo uso das armas químicas, mas sim pelas armas legais, amplamente disseminadas pela indústria bélica das potências, entre elas, a Rússia restauracionista.

Não se trata de condenar uma modalidade de arma e liberar outras. Essa distinção é feita pelas potências. É direito dos países semicoloniais, pobres e sem recursos se armar como podem contra o intervencionismo imperialista. A matança com o gás sarin é tão somente uma tragédia que amplia a barbárie já existente. Os Estados Unidos e sua coalizão procuram convencer as massas mundiais de que o fim do governo de al-Assad porá fim à guerra e ao uso de armas condenadas. E que o esmagamento do Estado Islâmico permitirá a paz. Para isso, justifica-se uma intervenção mais ampla pelos Estados Unidos e aliado. A Rússia, aliada de al-Assad, por sua vez, diz que o problema fundamental se encontra na oposição e, em especial, na presença do Estado Islâmico. Estados Unidos e Rússia, assim, ora se unem, ora se separam. Unem-se para liquidar o Estado Islâmico e a jihad nacionalista. Separam-se em torno da preservação ou remoção do governo de al-Assad.

A Síria vem sendo desmembrada de acordo com as forças intervencionistas. Em algum momento, o governo da família Assad e da oligarquia que o sustenta dará lugar a outro governo burguês nascido da guerra. No fundamental, o atraso econômico, as divisões étnico-tribais permanecerão e o imperialismo manterá seu domínio. Essa é a via traçada pelas potências, a ser percorrida depois de levar a Síria e seu povo à profunda desintegração. Trata-se dos explorados sírios, do Oriente Médio e do proletariado mundial lutar por outra via. Expulsar as forças imperialistas e suas aliadas. Constituir um governo revolucionário que reconquiste a unidade e a independência da nação oprimida. Superar as divisões étnico-religiosas. Remover as relações pré-capitalistas e capitalistas, estabelecendo a propriedade social. Desenvolver a luta pela unidade anti-imperialista do Oriente Médio.

Uma nova e mais violenta intervenção dos Estados Unidos está por vir. A defesa da autodeterminação da Síria é o ponto de partida para unir as massas em uma frente única anti-imperialista. É preciso combater com o programa a revolução proletária o intervencionismo das potências. É por essa via que os explorados começarão a erradicar as raízes do atraso, dos choques internos, dos governos ditatoriais, do domínio imperialista e alcançará a paz.

Imperialismo norte-americano ataca a Síria

Fora os Estados Unidos sanguinários do Oriente Médio

A ameaça lançada pela representante dos Estados Unidos na reunião do Conselho de Segurança foi cumprida. A sua marinha acaba de lançar mísseis sobre uma base das Forças Aéreas da Síria. Tínhamos acabado de escrever o artigo acima, quando imediatamente se cumpriu a previsão.

Donald Trump já estava decidido a intervir diretamente na guerra da Síria cuja duração chega a seis anos, com 400 mil mortos e 4,5 milhões de desabrigados. A prepotência da burguesia norte-americana e de seu Estado não tem limites. Trump a está usando, porém, nas condições de profunda crise mundial e de decadência da economia dos Estados Unidos. Necessita descarregar a decomposição do capitalismo sobre os demais países, principalmente sobre os países semicoloniais. Sua poderosa indústria bélica se nutre de guerras cada vez mais abrangentes.

O imperialismo não tem outra via para enfrentar as profundas contradições do capitalismo senão impulsionando as tendências bélicas. Foi assim com a 1ª e 2ª Guerras Mundiais. E tem sido assim com as guerras regionais. Não há conflito, choques e combates armados, em qualquer parte do mundo, em que os Estados Unidos e sua aliança não estejam presentes. O imperialismo necessita das guerras. É da natureza do domínio do capital financeiro e dos monopólios.

O Oriente Médio se tornou, desde a 1ª Guerra, a região mais conflagrada. Formado por países de economia atrasada, marcada pela forte presença de relações pré-capitalistas combinadas com relações capitalistas monopolistas e assentada nas gigantescas reservas de petróleo, conserva uma burguesia semifeudal incapaz de se unir contra o saque e o intervencionismo militar do imperialismo. A devastadora guerra na Síria é parte dessa realidade. Está aí por que está vinculada à intervenção norte-americana no Iraque e Afeganistão, e à guerra permanente do Estado sionista de Israel contra os palestinos. Está aí por que tem como precedente a guerra entre o Iraque e o Irã nos anos de 1980.

No rio de sangue dos inúmeros conflitos armados e guerras, está impressa a presença dos Estados Unidos. Neste preciso momento, realiza uma ofensiva militar em Mossul iniciada pelo ex-presidente Obama contra o Estado Islâmico, para a qual não tem limite o número de mortes de civis. Agora, Trump dá mais um passo atacando a Síria.

Chega-se, portanto, a um ponto alto do agravamento das tensões com a Rússia, que sempre esteve pela sustentação do governo de Baschar Al Assad e que desde setembro de 2015 passou a intervir diretamente na guerra. A Síria é fundamental para a Rússia garantir sua influência no Oriente Médio. De forma que o intervencionismo externo caracteriza a guerra como internacionalizada. Está expresso no seu desenvolvimento o objetivo de esquartejar a Síria.

O avanço nos últimos meses na recuperação de importantes cidades pelas forças governamentais e na perda de terreno pelas várias oposições em combate alertou as facções vinculadas ao imperialismo e aos Estados Unidos de que havia um risco de uma vitória final de Assad e de Putin. A resposta teria de vir da Casa Branca. Colocou-se uma mudança de tática militar. Não mais apenas apoiar a oposição confiável e servil, mas também agir diretamente. Estava colocada, pelo Pentágono, na mesa de Trump, essa alteração. A tragédia provocada pelo arsenal químico deu o motivo que o imperialismo necessitava. Sensibilizava o povo norte-americano e a opinião pública mundial. Trump se lança como salvador do povo sírio, em nome da “sabedoria de Deus” e da “paz”. O fascista, assim, mostra sua verdadeira política externa.

É parte dela a ofensiva de aparelhamento militar na Ásia e ameaça de intervenção sobre a Coreia do Norte. É parte dela a exigência de que a OTAN eleve sua capacidade militar. Não se pode, portanto, transigir em absolutamente nada diante da ofensiva do imperialismo em qualquer parte do mundo. É preciso denunciar o uso da tragédia que se abateu no povoado de Khan Shaikhoun pelos saqueadores e sanguinários, decididos a ampliar a guerra.

Os explorados de todo o mundo estão chamados a rechaçar e lutar contra os ataques dos Estados Unidos. Estão chamados a defender o fim de toda a intervenção das potências. Estão chamados a combater pela autodeterminação da Síria. Que o povo sírio resolva por si mesmo os conflitos e ponha fim à guerra. Trump, fascista, tire as mãos da Síria e do Oriente Médio!